
Expectativa é de que número total ultrapasse 2.200 pedidos; aviação, varejo e agro estarão entre os setores mais impactados neste ano
O ano de 2024 bateu o recorde desde 2016 como o ano com mais pedidos de recuperação judicial, pior da série histórica, que começou em 2005. Até outubro, foram 1.927 pedidos de recuperação judicial, enquanto o ano de 2016 foram 1.863. A expectativa é de que o número total ultrapasse os 2.200 pedidos.
De acordo com Filipe Denki, sócio do Lara Martins Advogados e especialista em Reestruturação Empresarial, as principais causas desse aumento incluem altas taxas de juros, inadimplência crescente, inflação persistente, problemas de infraestrutura e a disparada no número de pedidos de recuperação judicial no agronegócio destacadamente entre os produtores rurais pessoas físicas.
“As perspectivas econômicas para 2025 indicam um cenário de crescimento moderado, acompanhado de desafios significativos. A combinação de fatores como a inflação persistente, nova Presidência dos EUA com Trump à frente, a guerra na Ucrânia, desaceleração da economia da China, as incertezas geopolíticas e os desafios internos de cada país moldam um futuro repleto de incertezas, mas também de oportunidades”, destaca o advogado.“
O Banco Central projeta um crescimento do PIB de 2,0% para 2025, as projeções indicam que a inflação pode permanecer acima da meta estabelecida pelo Banco Central, que é de 3% ao ano, com variação de 1,5 pontos percentuais para cima ou para baixo, a taxa Selic, atualmente em 12,25%, pode subir para 14,25% no primeiro trimestre de 2025, com previsão de atingir 15% ao longo do ano.
“O desequilíbrio fiscal permanece uma preocupação, com gastos públicos crescendo em ritmo superior ao das receitas. A eficácia do novo arcabouço fiscal será crucial para a sustentabilidade das contas públicas”, acrescenta Denki.
Diante do cenário econômico pouco promissor, a expectativa e de alta e continuidade no aumento dos pedidos de recuperação judicial no Brasil, mantendo a tendência observada em 2024. “Setores como aviação, sucroalcooleiro, agro e varejo são apontados como os mais suscetíveis a dificuldades financeiras, especialmente devido ao aumento do dólar, que eleva os custos e dificulta o repasse aos consumidores”, analisa o especialista.
A manutenção de um ambiente econômico desafiador, caracterizado por altas taxas de juros e restrições de crédito, sugere que o número de pedidos de recuperação judicial no Brasil continuará elevado em 2025. “Empresas de diversos setores precisarão adotar estratégias de reestruturação e buscar alternativas, como a recuperação extrajudicial, para enfrentar as adversidades econômicas previstas”, completa.
O Indicador de Falência e Recuperação Judicial da Serasa aponta 2.273 pedidos da medida no ano passado – um aumento de 61,8% em relação a 2023.
Para o especialista em reestruturação, gestão de crise e melhoria de performance e estratégia André Rocha, 2024 teve um aumento significativo que continuará em 2025 por conta de vários fatores.
“No início do ano passado havia expectativa da Selic cair no segundo semestre abaixo dos dois dígitos, para algo em torno de 9%. Além de não cair, ainda aumentou, terminou em 12,25% com expectativa de aumento esse ano, o que pode impactar em mais pedidos”, analisa o especialista.
Para André Rocha, o mercado ainda sente os impactos deixados pela pandemia. “É a ressaca pós-pandêmica, ao contrário da expectativa, de 2020 a 2022 não tivemos aumento significativo nos pedidos de recuperação judicial porque os bancos estavam dispostos a fechar acordos, flexibilizar. Sem contar os auxílios emergenciais do governo”, destaca ele.
Porém, a partir de 2023 os pedidos sofreram grande alta, com os bancos executando as dívidas e a retirada da ajuda do governo, somados ao aumento da taxa de juros e aumento dos custos de produção.
Segundo dados da Serasa, 426 produtores rurais atuantes como pessoa física solicitaram a medida nos primeiros nove meses de 2024, mais de cinco vezes o total registrado no mesmo período de 2023. Já os que atuam como pessoa jurídica, também no agronegócio, quase triplicaram: saltaram de 102 em 2023 para 299 em 2024.
“Com a ruptura nas cadeias produtivas durante a pandemia, os preços dos insumos agrícolas aumentaram muito e esse é outro fator, além do preço das comodities que também despencaram, o que levou a uma tempestade perfeita com queda de preços e faturamento, aumento de custos e, além disso, também teve o aumento do custo da dívida, que são os juros”, explica André Rocha.
Para esse ano, o especialista vê uma tendência de queda no percentual de pedidos em relação ao total ajuizado em 2024, nos pedidos de recuperação judicial no setor do agro.
“Embora a taxa de juros ainda vai permanecer em alta, o preço das commodities está sinalizando também uma alta, de um modo geral e irá seguir firme, o que vai ajudar o setor. Vejo uma tendência de queda, não acentuada, mas menos pedidos na relação ao total, eu acredito que sim.”
Segundo ele, a recuperação judicial deve ser encarada como a última alternativa de reestruturação, quando a crise já está em estágio bastante avançado e já não há como evitá-la. “Se o empresário agir preventivamente, mediante os primeiros sinais de desgaste, há outros meios menos traumáticos a serem adotados.”
Ainda de acordo com o especialista, a primeira alternativa a ser cogitada é o workout, em que consegue negociar com credores sem a necessidade de judicialização. “Acredito que esse ano será interessante para workouts, pois os bancos estão vendo que a taxa de juros está alta e estarão mais propensos a flexibilizar nas negociações, sob pena de levar a empresa para a recuperação judicial”, afirma ele, reforçando em especial nos créditos que não possuem garantia fiduciária com valor elevado.
As mediações também são positivas para tentar encontrar um acordo. “Se comprovar perante o juízo que foi instaurado o processo de mediação, o juiz dá uma decisão onde suspende as ações de execuções por 60 dias.”
A penúltima alternativa é a recuperação extrajudicial. “É um procedimento mais rápido, mais barato e com menor dano reputacional ao devedor. E só no último caso, sim, o pedido de recuperação judicial”, finaliza.
Fonte: https://monitormercantil.com.br/recorde-em-recuperacoes-judiciais-liga-o-alerta-em-setores-comerciais-em-2025/#:~:text=O%20ano%20de%202024%20bateu,total%20ultrapasse%20os%202.200%20pedidos.