
Empresa de produtos de limpeza busca reestruturar R$ 332,9 milhões e proteger ativos com aval da Justiça; Itaú, Banco Paulista e Santander são os principais credores financeiros
A recuperação judicial (RJ) da Bombril, uma das maiores empresas de produtos de limpeza do Brasil, afeta onze bancos brasileiros, que possuem créditos a receber que totalizam cerca de R$ 130 milhões após conceder empréstimos e financiamentos ao grupo, segundo a lista de credores vista pela Bloomberg Línea
A Bombril S.A. e suas subsidiárias (Brilmaq e Bril Cosméticos) apresentaram um pedido de RJ na segunda-feira (10) na Justiça de São Paulo, em um esforço para reestruturar R$ 332,874 milhões e garantir a continuidade da operação.
As empresas solicitaram uma liminar para proteger seus ativos de ações de execução de credores e evitar impactos aos negócios durante o processo.
Nesta quarta-feira (12), o juiz Ralpho Waldo de Barros Monteiro Filho deferiu o processamento da RJ e nomeou a Lastro Consultores como administradora judicial, que terá de apresentar o primeiro relatório em 10 dias.
O maior credor financeiro é o Itaú Unibanco, com crédito a receber de R$ 18,175 milhões, de acordo com a lista. Depois, aparecem Banco Paulista (R$ 16,606 milhões), Santander Brasil (R$ 16,551 bilhões), Daycoval (R$ 16,260 milhões), ABC (R$ 9,094 milhões) e Sofisa (R$ 9,009 milhões).
Há ainda créditos a receber atribuídos ao C6 Bank (R$ 7,786 milhões), ao Rendimento (R$ 7,698 milhões), ao Fibra (R$ 6,847 milhões), ao Triângulo (R$ 5,159 milhões) e ao Banco Industrial do Brasil (R$ 2,454 milhões). Os credores podem ainda questionar esses valores indicados pela companhia.
O grupo enfrenta uma crise financeira e operacional na esteira de contingências tributárias herdadas de gestão anterior.
A empresa tem uma dívida fiscal – ou seja, com o governo – de aproximadamente R$ 2,3 bilhões e cita dificuldades para acessar novas linhas de crédito.
A situação se agravou com uma reclassificação da contingência tributária de “possível” para “provável”, o que pode levar a uma “corrida de credores” e à paralisia operacional.
“Parece haver uma bomba fiscal iminente que pode explodir na Bombril e atacar seu caixa. Isso motivou o grupo a pedir a RJ”, avaliou à Bloomberg Línea Daniel Báril, coordenador da área de Insolvência e reestruturação de Silveiro Advogados, que não possui ligação com o caso.
Para evitar essa situação, a Bombril decidiu ajuizar uma recuperação judicial na Vara Regional Empresarial e de Conflitos Relacionados à Arbitragem da 1ª Região Administrativa Judiciária, do Tribunal de Justiça de São Paulo.
A recuperação judicial permitirá à empresa renegociar suas dívidas e equalizar seu fluxo de caixa – desde que, é claro, o plano se aprovado pelo credores em sua maioria e, depois, de fato funcione.
O pedido foi apresentado perante a Justiça Comercial da Comarca de São Bernardo do Campo, que é considerada a sede do principal estabelecimento do Grupo Bombril.
Pedido de segredo de justiça
O pedido de RJ é acompanhado de uma extensa documentação, que inclui demonstrações contábeis, relações de credores e bens e certidões de regularidade.
O Grupo Bombril requer que certos documentos, como as relações de empregados e a relação de bens do sócio controlador e administradores, sejam mantidos em segredo de justiça, sob alegação de proteção da intimidade e da privacidade de pessoas envolvidas.
A medida não afetará a capacidade operacional da empresa, que disse confiar em um novo ciclo de crescimento após a recuperação judicial, segundo documento enviado à CVM (Comissão de Valores Mobiliários) nesta terça-feira (11).
Com quase 3.000 postos de trabalho diretos e indiretos, o grupo tem três plantas industriais em São Paulo, Pernambuco e Minas Gerais, além de depósitos regionais e rede de distribuidores.
Foi fundado em 1948 e possui marcas tradicionais de higiene e limpeza como Bombril, Limpol, Sapólio, Mon Bijou e Pinho Bril.
Segundo a petição, a crise atual não afasta a viabilidade financeira e operacional do Grupo Bombril, mas torna necessário um processo de recuperação judicial para negociar uma solução global e coletiva com os credores.
A recuperação judicial permitirá renegociar suas dívidas, regularizar sua situação fiscal, manter sua operação e empregos e retomar seu crescimento e investimentos, segundo o documento.
A Bombril foi fundada por Roberto Ferreira e, no início da década de 2000, após a morte do patriarca, os três filhos venderam suas participações, e o controle foi adquirido pela Cragnotti & Partners Capital, do empresário italiano Sérgio Cragnotti.
Em 2006, Ronaldo Sampaio Ferreira, um dos três herdeiros, recuperou o controle da companhia, após disputa judicial, que resultou no afastamento da Cragnotti por falta de pagamento das ações adquiridas. Entre os acionistas minoritários da Bombril, está o empresário Silvio Tini de Araújo, da Bonsucex Holding, com 7,61% do capital, enquanto seu grupo detém 3,49%, segundo dados da B3.
Fonte: https://www.bloomberglinea.com.br/negocios/bombril-recuperacao-judicial-afeta-11-bancos-com-r-130-milhoes-em-credito-a-receber/