Banco Central eleva Selic para 14,25%, maior patamar desde outubro de 2016, e sinaliza nova alta em maio

O Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central elevou a taxa básica de juros, a Selic, em 1 ponto percentual nesta quarta-feira, de 13,25% para 14,25% ao ano, entregando o choque de juros prometido no fim do ano passado para tentar controlar a inflação. O Brasil tem agora o quarto maior juro real do mundo.

Com o movimento, a Selic alcançou o patamar mais alto desde outubro de 2016 e se iguala ao nível da crise do impeachment de Dilma Rousseff. Esse patamar já deve ser superado na próxima reunião, em maio, uma vez que o Copom indicou que deve aumentar a Selic, embora em menor ritmo. Se confirmado, chegará ao maior nível desde o primeiro governo Lula, em 2006.

“Diante da continuidade do cenário adverso para a convergência da inflação, da elevada incerteza e das defasagens inerentes ao ciclo de aperto monetário em curso, o Comitê antevê, em se confirmando o cenário esperado, um ajuste de menor magnitude na próxima reunião”, afirma o texto.

Para as reuniões seguintes a maio, o Copom somente reforçou que a magnitude total do ciclo de alta de juros será ditada pelo “firme compromisso de convergência da inflação à meta” e dependerá da evolução da inflação, das projeções e expectativas de inflação, do hiato do produto (medida de aquecimento da economia) e do balanço de riscos.

A decisão desta quarta representou o quinto aumento consecutivo da taxa Selic neste ciclo de aperto monetário, iniciado em setembro de 2024. Foi a segunda reunião do Copom sob a gestão de Gabriel Galípolo, que assumiu a presidência do BC em janeiro, indicado pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva. O petista tem sido um crítico dos juros elevados, mas vem sentindo o efeito do aumento de preços em sua popularidade.

Aumento já era dado como certo

O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, disse que o aumento da Selic já estava previsto, mas afirmou que só vai comentar a decisão com detalhes após a publicação da ata da reunião do Copom, na semana que vem.

O movimento desta quarta-feira era de fato amplamente esperado pelo mundo político e pelo mercado financeiro, seguindo a sinalização do BC nos últimos dois encontros do Copom. Entre 125 instituições financeiras e consultorias ouvidas pelo Valor Data, todas acreditavam em uma alta de 1 ponto na Selic.

No comunicado, o BC ressaltou que o cenário atual é marcado por um afastamento adicional das expectativas de inflação da meta, projeções de inflação elevadas, resiliência na atividade econômica e pressões no mercado de trabalho. Segundo o Copom, esse ambiente “exige uma política monetária mais contracionista”, ou seja, um juro mais alto.

O BC destacou que os dados de inflação recentes mostraram aumento e mantiveram-se acima da meta, que é de 3% em 12 meses com tolerância de 1,5 ponto percentual para cima ou para baixo.

O IPCA — índice oficial de inflação — voltou a se afastar do intervalo da meta em 12 meses. Passou de 4,56% em janeiro para 5,06% em fevereiro. As expectativas de inflação também continuaram se deteriorando. Para 2025, subiram de 5,50% para 5,66% e, para 2026, de 4,22% para 4,48%.

Por outro lado, as projeções oficiais de inflação do BC tiveram um leve alívio em relação à reunião anterior do Copom, em janeiro, embora muito longe ainda da meta de 3,0%.

Para 2025, houve redução de 5,2% para 5,1%, enquanto para o terceiro trimestre de 2026, horizonte com que o BC atualmente trabalha para colocar a inflação na meta, o recuo foi de 4,0% para 3,9%. Um ponto que ajudou foi a queda do dólar, que saiu de patamar superior a R$ 6,00 em janeiro para R$ 5,80 nesta reunião.

Cenário ligeiramente mais favorável

O BC também fez uma avaliação ligeiramente mais favorável para o cenário, mas foi bastante cauteloso. A avaliação é que começam a se acumular evidências de que a atividade econômica, atualmente sobreaquecida, está se arrefecendo, como a surpresa negativa com o Produto Interno Bruto (PIB) do quarto trimestre de 2024 (0,2%).

Atualmente, o BC considera que a economia está sobreaquecida, ou seja, que está operando acima da estrutura produtiva do país, o que gera pressões inflacionárias.

No comunicado, o Copom ainda afirmou que o ambiente externo “permanece desafiador” em função da conjuntura e da política econômica nos Estados Unidos, citando especificamente a incerteza sobre a política comercial de Donald Trump e seus efeitos nas economias americana e do mundo.

“Esse contexto tem gerado ainda mais dúvidas sobre os ritmos da desaceleração, da desinflação e, consequentemente, sobre a postura do Fed e acerca do ritmo de crescimento nos demais países”, disse o Copom no texto.

Segundo o colegiado formado pelos diretores do BC, os bancos centrais das principais economias do mundo permanecem determinados em promover a convergência das taxas de inflação para suas metas em um ambiente marcado por pressões nos mercados de trabalho. “O Comitê avalia que o cenário externo segue exigindo cautela por parte de países emergentes.”

O que dizem os especialistas?

O comunicado do Copom foi considerado mais duro do que o esperado pelos economistas. O primeiro ponto nessa direção foi justamente já se comprometer com um novo aumento de juros na reunião de maio.

— Isso enfraquece muito a precificação minoritária que ainda tinha na curva de juros de uma manutenção em maio — diz a economista-chefe da SulAmérica Investimentos, Natalie Victal. — No todo, é um comunicado que fortalece um aumento de 0,50 pp ou 0,75 pp em maio.

Victal também citou como um elemento mais duro a avaliação sobre a atividade econômica, já que, em sua avaliação, o BC foi cauteloso ao dizer que há sinais de “incipiente” moderação. Nesse contexto, e com a projeção de inflação longe da meta, ela prevê um aumento de 0,50pp em maio e um ajuste final, de 0,25pp,em junho, com a Selic chegando a 15%.

A economista-chefe e sócia da Buysidebrazil, Andrea Damico, citou a própria projeção de inflação do BC como uma sinalização de maior cautela, já que a queda para o terceiro trimestre de 2026 foi marginal ante janeiro, de 4,0% para 3,9%.

Outro aspecto mais duro foi a manutenção do balanço de riscos assimétrico para a inflação, com maior chance de uma taxa mais alta do que o BC prevê hoje.

— Não achei ruim que, dadas as incertezas e a defasagem, o BC disse que antevê um ajuste de menor magnitude. Está dentro do esperado, dado o nível do ciclo monetário, já está com a Selic em 14,25%, não é pouca coisa. Está mais perto do fim do que no meio, faz sentido a redução do ritmo.

Independência

Victal concorda que o BC está se preparando para parar. Segundo ela, a menção às defasagens “inerentes” da política monetária está coerente com o discurso recente dos integrantes do Copom.

— Na ata da última reunião, a atividade ganhou mais espaço e a expectativa de inflação foi perdendo espaço na fala dos diretores.

Em sua avaliação, até o momento, “não tem nada que desabone” o BC escolhido por Lula, que, por enquanto, tem adotado decisões tecnicamente defensáveis e uma postura bastante institucional.

— Isso acaba ajudando na credibilidade, mas o que dá credibilidade mesmo é entregar inflação na meta

Fonte: https://oglobo.globo.com/google/amp/economia/financas/noticia/2025/03/19/banco-central-eleva-a-taxa-selic-para-a-1425-ao-ano-maior-patamar-desde-outubro-de-2016.ghtml

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