
De 100 companhias com grandes receitas, 23 têm relação entre dívida líquida e geração de caixa superior a 3 vezes, um nível considerado elevado
As empresas com maior pressão sobre o custo da dívida deverão sofrer os efeitos do novo ciclo de aumento dos juros já nos primeiros meses de 2025. Nesse quadro adverso, os pedidos de reestruturação das companhias tendem a aumentar, incluindo os de recuperação judicial, que já se encontram em nível recorde.
Considerando as 100 maiores empresas em receita, a grande maioria de capital aberto, 23 estão com o índice de alavancagem, medido pela relação entre a dívida líquida e o Ebitda (lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização), acima de 3 vezes, um número considerado elevado. Destas 23, 11 tiveram alta desse indicador no terceiro trimestre de 2024 na comparação com o mesmo período do 2023. O levantamento é do Valor Data.
Sócio da RK Partners, Ricardo Knoepfelmacher, conhecido como Ricardo K., diz que qualquer empresa com alavancagem próxima a três vezes costuma ter que reestruturar sua dívida em momentos em que a Selic ultrapassa os 12%, nível que acaba de ser atingido pela decisão mais recente do Banco Central. Em dezembro, a taxa subiu para 12,25% e deverá alcançar 14,25% em março, com duas novas altas de 1 ponto percentual. Segundo ele, trata-se “de um sinal amarelo muito forte”.
Um estudo feito pela RK Partners referente ao terceiro trimestre, com 403 empresas médias e grandes, mostra que 27% não tinham capacidade de servir a dívida. A projeção de Ricardo K. é que, com os dados do último trimestre de 2024, essa fatia suba para 30%. “Muitas empresas estão adiando conversas difíceis e jogando para 2025.”
O número de empresas com problemas, no entanto, é ainda maior. Incluídas as pequenas e médias, a lista com menor capacidade de pagar a dívida cresce consideravelmente, segundo a Seneca Evercore. “Empresas médias estão com metade do índice de cobertura que tinham há dois anos. Ou seja, a capacidade de pagar seu serviço de dívida caiu pela metade”, afirma Daniel Wainstein, sócio da Seneca no Brasil. “Tem muita empresa média insolvente. Não me surpreende que o número de recuperações judiciais tenha aumentado.”
Fonte: https://valor-globo-com.cdn.ampproject.org/c/s/valor.globo.com/google/amp/impresso/noticia/2025/01/06/aumento-forte-dos-juros-devera-acelerar-reestruturacao-de-empresas-endividadas.ghtml